Se Eu Pudesse Voltar…

Hoje acordei e o tempo insiste em não ter pressa.

Sentei-me a mesa do café ainda de pijama, como não tenho mais a obrigação de ir para o trabalho e nem de levar as crianças para escola, vagarosamente tomei o café contemplando a fumaça que despendia da xícara. O tempo me presenteou com um novo estilo de vida. Hoje, o ter foi substituído pelo ser. Sou mais cuidadoso, compreensivo e paciente. Com a empatia aprendi a me colocar no lugar do outro, a respeitar as diferenças. Me sinto mais leve agora, o perdão me ensinou a deixar para trás rancores, ofensas e todos os pensamentos negativos que pesavam sobre meus ombros. Sou menos apressado, intransigente, crítico e dono da verdade.

Além dos livros, o tempo e o silêncio se tornaram meus grandes amigos. Aproveitei para fazer as pazes comigo, troquei preocupação por ocupação, queixas por gratidão, para diminuir a ansiedade passei a viver mais no agora, no presente.

Na hora do almoço não tenho que me preocupar mais com horário, posso desfrutar desse momento tranquilamente. Já recostado na poltrona da sala, me ajeito para dar a costumeira cochilada da tarde. Ao fechar os olhos me veio a lembrança do meu tempo de criança, da escola e das pessoas que fizeram parte da minha vida, trago um pouco de cada um deles comigo. Recordei-me dos colegas de trabalho, como estrará o Paulo, o Ronaldo e a Vera! Saltou-me um questionamento: o que eu teria feito de diferente na minha vida?

Acho que teria dado menos atenção para os problemas e mais para as pessoas. Certamente dançaria mais, daria mais gargalhadas, assistiria mais filmes, viajaria mais, passaria mais tempo com os meus familiares e amigos, passearia mais com meu cachorro. Não esperdiçaria meu valioso tempo com disputas, discussões e conflitos. Aproveitaria para dizer mais obrigado, falar eu te amo, você é muito importante para mim. Se pudesse voltar atrás…

Tipo 1  

Perfeccionista

Índio idoso em isolamento em casa

Eu, perfeccionista que sou, chego a esse momento da minha vida com a certeza de que dei o meu melhor, segui todas as regras, fiz o que era certo e necessário, fui justo e tentei ser perfeito. Cumpri com minhas obrigações e deveres com a maior integridade, sempre busquei a retidão e a grandeza de caráter, sempre levei muito a serio os meus compromissos, mas acho que poderia ter agido de forma mais leve, poderia ter sido mais aberto e alegre.

Deveria ter evitado os julgamentos, poderia ter exigido e cobrado menos de mim e das pessoas ao meu redor. Descobri que a perfeição não existe, ela é apenas uma exigência do meu ego. Com o tempo passei a ser menos intransigente e mais flexível, entendi que posso olhar a mesma coisa de vários ângulos, não só da perspectiva do meu gabarito idealizado. Deveria ter experimentado mais, sorrido mais, vivido mais.

Tipo 2

Prestativo

Dia do Idoso: Vamos comemorar juntos? - Gero360

Eu sempre fui muito prestativa, agora, já no fim da caminhada, posso me gabar de ter ajudado muita gente por onde passei, as pessoas sempre foram muito importantes para mim, lembro-me de cada momento e o quanto me entreguei para servir e amenizar as necessidades dos outros. Dispus não só do meu tempo e dinheiro, mas do meu coração, acima de tudo, eu me doei.

Quanto mais me preocupava com as pessoas, mais me esquecia de mim. Penso que se tivesse voltado meu olhar um pouquinho mais para mim, priorizado as minhas necessidades e me valorizado, certamente me sentiria mais realizada. Se tivesse tido coragem para falar sobre meus sentimentos e emoções, com certeza teria aproveitado mais a minha vida. Ainda jovem deveria ter aprendido a receber e a aceitar ajuda.

Tipo 3

Realizador

Saúde do Idoso: Aprenda tudo sobre uma vida saudável para os idosos

Sempre fui uma grande realizadora, posso dizer que sou uma pessoa bem sucedida, consegui realizar coisas que muitos duvidavam. Dediquei-me inteiramente ao meu propósito de vencer e na vida e ser reconhecida como a melhor. Por onde andei todos sabiam da minha capacidade e do meu sucesso, tive tudo de melhor que a vida pode oferecer. Hoje, aqui sozinha pensando com meus botões, certamente faria diferente.

Dedicaria menos ao trabalho e mais a família. Separaria na minha agenda um espaço para estar com as amigas, valorizaria mais a lealdade e o companheirismo. Trataria as pessoas com mais atenção e respeito. Disputaria menos, não me preocuparia tanto em estar sempre em primeiro lugar. Pensaria mais em ser do que em ter. Certamente viveria uma vida mais simples e verdadeira.

Tipo 4

Romântico

Tatuagens na terceira idade ganha cada vez mais adepto

Pode me chamar de romântica, foram muitas sensações e emoções. Tenho a satisfação de dizer que me atirei de corpo e alma na busca de um sentido maior na vida. Viajei muito, e mesmo quando não pude, minha imaginação me levava para outras dimensões. Fui intensa, busquei o belo, misturei cores e aromas, ouvi muitas músicas, de vários ritmos e melodias, cantei, escrevi, me entreguei a dança e a expressão corporal. Passei por algumas religiões e muitas experiências exotéricas e transcendentais.

Hoje, acho que se tivesse me centrado no que era verdadeiramente necessário, nas coisas reais do dia a dia, se tivesse equilibrado meus sentimentos e trabalhado minhas emoções, se tivesse vivido mais no aqui e no agora, certamente os meus pensamentos não vagariam constantemente entre o passado e o futuro. Com o tempo fui aprendendo trocar reclamação por gratidão, vitimismo,  por autorresponsabilidade, passei a ter mais empatia, a me dividir entre a minha busca, minhas realizações e os meus relacionamentos.

Tipo 5

 Observador

Sobre o envelhecimento saudável do idoso

Investiguei e observei tudo o quanto pude. Sem falsa modéstia posso dizer que já transmiti bastante conhecimento para as pessoas. Dediquei-me completamente na busca da sabedoria, do estudo e da ciência, dei aula, pesquisei, escrevi livros, publiquei artigos e tudo mais que esteja ligado ao conhecimento e a informação. Passei uma vida tentando entender o mundo. Mas aqui agora, entre livros e anotações, me veio o pensamento de que se pudesse voltar no tempo faria algumas mudanças.

Procuraria ouvir o que as pessoas comuns tem a dizer, conviveria menos com livros e mais com gente. Sairia mais da minha toca e contemplaria mais a natureza. Me permitiria ser mais aberto e caloroso nos meus relacionamentos, tentaria desapegar das minhas convicções e da necessidade de saber e entender tudo. Certamente sairia da minha trincheira e enfrentaria o mundo.

Tipo 6

Questionador

O que é o estatuto do idoso e sua importância

Pra mim o seguro morreu de velho, cheguei até aqui tentando me precaver de tudo, sempre estive atento a todos os pormenores da vida, constantemente estou em busca de informações que possam me deixar mais seguro. Sempre procurei me orientar bastante nas tomadas de decisão, planejando, calculando e refazendo os planos para ter certeza que estava tudo certo. Procurei fazer as minhas obrigações com a maior seriedade. Fui leal aos meus amigos. Me cerquei de todas formas possíveis para não ser pego desprevenido.

Contudo, isso me custou muitas noites de sono e uma ansiedade incontrolável, estava sempre à espera de que algo iria dar errado, que algo estava fora do controle. A falta de confiança em mim e nas outras pessoas tornavam as minhas tomadas decisões em uma eterna guerra mental. Com certeza, se pudesse voltar no tempo, sofreria menos por antecipação, seria uma pessoa mais relaxada e menos ansiosa. Duvidaria menos, confiaria mais no meu instinto e na minha intuição.

Tipo 7

Entusiasta

Etarismo: o que é, impactos na vida do idoso e a importância da pirâmide etária | Sami Saúde

O entusiasmo nunca me faltou, posso dizer que aproveitei a vida, a alegria sempre foi a minha companheira, a tristeza não me lembro onde deixei. Busquei a liberdade, experimentei de tudo, estive em busca de aventuras e da novidade. Mudei várias vezes de direção, estar preso a algo sempre me incomodou. Por onde passei fiz muita gente feliz, era uma festa só, a minha energia contagiava a todos. O otimismo, a facilidade de comunicação e minha forma de expressar abriam facilmente as portas para todos os tipos de relacionamento, contanto que fosse com gente alto astral, que amasse viver a vida.

Agora, já no final dessa jornada, se tivesse a oportunidade de fazer algo diferente, acho que colocaria um pouco mais de controle na minha ânsia de querer devorar os prazeres do mundo, diminuiria a intensidade da busca incessante pelo prazer. Procuraria enfrentar os problemas e as tristezas da vida de frente, sem esconde-las atrás de falsas alegrias e distrações. Daria mais atenção as pessoas, seria mais compenetrado. Aprendi que a felicidade está nas coisas simples, está dentro de mim mesmo.

Tipo 8

Confrontador

900+ Retrato De Homem Idoso Pensativo Na Natureza A Europa fotos de stock, imagens e fotos royalty-free - iStock

Sempre estive preparado para guerra e para o confronto. Eu trabalhei duro, lutei muito, tudo foi com muito esforço, enfrentei as adversidades do mundo de peito aberto, sem me esquivar ou acovardar de nada, mas posso dizer que venci. Quem esteve comigo desfrutou da minha proteção e comprovou o quanto combati a injustiça. Nessa batalha incansável para vencer na vida e conquistar o meu espaço, tive que fazer uso de toda minha força, resiliência e energia, fui em busca do meu próprio destino, e isso me proporcionou inúmeras vitórias e grandes conquistas.

Mas hoje, certamente teria sido menos direto, não abusaria tanto da força, desafiaria menos, deixaria as pessoas mais a vontade. Acho que exagerei nas minhas ações, muitas das vezes passei por cima dos sentimentos das pessoas. Andaria mais relaxado, deixaria de lado a sensação de ser atacado a qualquer momento. Faria mais amigos, buscaria confiar mais, a ver o lado bom das pessoas.

Tipo 9

Mediador

Protagonismo em idosos: o seu papel na sociedade - Cora Senior

Sempre fui um grande mediador. Por onde andei espalhei harmonia, paz e a concórdia, sempre procurando de alguma forma acalmar os ânimos, aparar as arestas, tornar o ambiente mais harmonioso e as relações mais amistosas, nem que para isso me custasse cortar na própria carne. Quando estava com a minha força vital equilibrada, eu liberava uma energia magnética que aglutinava as pessoas e emitia uma vibração positiva por todo o ambiente.

Para atingir o meu objetivo de pacificar, fui deixando para trás o amor próprio, minhas vontades e desejos, meus sonhos e minhas realizações, perdi o contato comigo mesmo. Hoje consigo enfrentar com mais postura os problemas e os conflitos, consigo controlar mais a minha energia, não deixando ela se esvair toda vez que tenho que me impor. Entrei em contato com minha raiva, e passei a viver a verdadeira paz, não a de se esconder e sair de cena toda vez que acontece um conflito, mas a paz da ação certa, de estar verdadeiramente vivo e presente. Mas se pudesse voltar no tempo, colocaria as minhas necessidades em primeiro lugar, me amaria mais, dedicaria mais aos meus propósitos, seria mais firme e decidido, deixaria para traz a procrastinação.

“APRESA-TE EM VIVER BEM E PENSA QUE CADA DIA É, POR SI SÓ, UMA VIDA”

Sêneca

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