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Vencendo as Paixões

O céu começa em você, assim pensavam os Padres do Deserto, monges que viviam reclusos no deserto do Egito por volta de 300 anos d.C.. Homens que experimentavam a Deus de todas as formas.

A espiritualidade desses monges nos conduz a um caminho de Liberdade interior, ela nos permite vislumbrar a própria realidade, sem avaliá-la ou julgá-la. Nas discussões sempre percebo como as pessoas têm medo de olhar para dentro de seu próprio coração, pois aí elas podem encontrar toda a escuridão e repressão, diante das quais preferem fechar os olhos. Os Padres do Deserto nos convidam a olhar sem medo todos os abismos de nossa alma, a abraçar a nossa sombra, porque estão convencidos de que também na maior escuridão, brilha a luz de Jesus Cristo, e que tudo o que é demoníaco em nós pode ser transformado pelo espírito de Jesus. Os monges ascetas atrevem a descer às suas profundezas, porque acreditam que Jesus Cristo os toma pela mão e os acompanha, “Chegamos a Deus por meio de uma rigorosa auto-observação e por um sincero autoconhecimento”.

Através das nossas paixões é que perdemos o contato com o nosso coração, distanciamos da nossa essência, nossa parte divina. Os reclusos Padres, através de suas próprias experiências, nos encorajam a buscar novamente esta ligação, nos convidam a entrar no sagrado espaço do silêncio, este é retirado do terror do mundo, ali onde Deus habita em nós, somos salvos e íntegros; ali ninguém pode nos atingir e é também ali que somos livres. Neste coração grandioso abre-se para nós o céu, e, experimentamos a proximidade do Deus que cura e que ama. Cada um de nós carrega em si um lugar de silêncio. Na solidão é que os monges observavam rigorosamente seus pensamentos e sentimentos, sobre seus hábitos e seu caminho para Deus. Desse modo eles adquiriram um grande conhecimento sobre a natureza humana, eles experimentavam Deus verdadeiramente, por mais paradoxo que possa parecer, aqueles que se retiraram do mundo, se isolaram, passaram a ser os maiores conhecedores de suas paixões. O autossuportar-se ou permanecer em si, é a condição para todo o progresso humano espiritual.  Quanto mais próximo o homem chega de Deus, tanto mais humilde ele se torna, pois é aí que ele sente, enquanto homem que é, o quanto está distante da santidade de Deus.

A Ordem do RPG: Arquétipo: Anacoreta

O sofrimento é um convite a uma entrevista com Deus. Os padres do deserto nos ensinam uma espiritualidade a partir da base, do alicerce. Eles nos mostram que devemos principiar em nós e em nossas paixões.  O padre Evágrius Ponticus formulou isso da seguinte maneira: “Se queres conhecer a Deus, aprende primeiramente a conhecer a ti mesmo!”. Para buscarmos o reencontro com a nossa essência, primeiramente precisamos distinguir o que constitui a nossa própria realidade, devemos encarar nossas paixões e lutar com elas. Somente então é que tais pessoas podem pôr-se interiormente a caminho; somente então elas podem fixar seu coração plenamente em Deus. Há hoje em dia, muitas pessoas que ficam fascinadas cedo demais por caminhos de espiritualidade, pensam que podem seguir este caminho sem antes terem seguido o penoso caminho do autoconhecimento e do encontro com seu próprio lado sombrio. Este caminho facilmente nos leva a fazer o mesmo que aconteceu a Ícaro, que aproximando-se demasiadamente do Sol, caiu por ter construído asas de cera. De modo semelhante, as asas que nós construímos antes de nos encontrarmos com nossa própria realidade, são também, simplesmente de cera, elas não conseguem sustentar-nos. É descendo para dentro de nossa condição terrena que entramos em contato com o céu, com Deus, pois à medida que nós temos a coragem de descer até nossas próprias paixões, elas nos elevam a Deus. Por ser esta humildade o caminho mais vil e desprezível para se chegar a Deus, isso é, por ser ela o caminho da própria realidade para se alcançar o verdadeiro Deus, é que ela foi tão exaltada pelos padres monásticos. Aquele, porém, que almeja o céu com facilidade, nada encontra além de sua imagem pessoal a respeito de Deus e suas próprias projeções. O que precisamos fazer é, através dos pecados, das nossas paixões, mergulhar dentro de nossa profundidade mais abissal, porque é a partir do mais baixo que poderemos acender até Deus. Tomemos como maior exemplo Jesus Cristo, para alçar aos céus, primeiro se rebaixou, viveu dolorosamente suas paixões. E nesse sentido, acredita-se ser possível que se descubra tanto a vontade de Deus, quanto minha vocação a partir de mim mesmo, mas isso, unicamente se eu tiver a coragem de rebaixar-me na intenção de ocupar-me com minhas paixões, com meus instintos, com minhas necessidades e desejos. Dizia São Paulo: “Na minha fraqueza sou capaz de reconhecer o plano que Deus tem para comigo”. Como também, o padre Doróteo de Gaza: “Onde nós caímos, onde nos afastamos de Deus, é que aprendemos uma lição, a lição que nossas virtudes não são capazes de nos ensinar. Justamente onde nos deparamos com nossas fraquezas pessoais é que nos tornamos abertos para Deus”. 

Pela tentação o homem experimenta essencialmente a sua distância de Deus. As tentações obrigam-nos a cravar nossas raízes ainda mais profundamente em Deus e a depositar nossa confiança cada vez mais nele, porque as tentações nos mostram que a partir de nossas próprias forças, seríamos incapazes de dar conta delas. Os conflitos constantes nos tornam interiormente mais forte, fazendo-nos amadurecer espiritualmente.

É por meio da oração que o homem vê sua própria luz, e é por esta luz que ele descobre a sua própria natureza, que é toda reluzente e tem parte na luz de Deus. Neste lugar de Deus, no lugar da paz, no interior da alma, tudo é silêncio e aí só Deus habita. Aí tudo é curado. É também aí que, no amor de Deus, todas as feridas que a vida possa nos ter infligido são cicatrizadas. Pois é aí que nos unimos a Deus, mergulhamos em sua luz, em sua paz, em seu amor.

Quando eu mesmo dou forma minha vida, quando lhe dou uma forma que se parece comigo e que me agrada, então, passo a ter prazer por ela. Tenho a sensação de que sou eu mesmo quem vivo, e não, de que sou meramente vivido por ela. E isso se faz presente no modo como me levanto, como começo o dia, como vou ao trabalho, como realizo minha refeição, como conduzo e como encerro o meu dia. Façamos por merecer a vida de abnegação desses monges eremitas, que buscaram no silêncio do deserto inspiração e orientação para adentrarem na mais profunda escuridão de suas almas, vencer suas paixões, e ali, encontrar o caminho para o reencontro com a luz divina.

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